terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Família Dalla Bernardina – Uma Viagem Na História

Eu sempre me interessei por assuntos de memória e história, principalmente sobre a imigração italiana, por uma questão absolutamente pessoal. De alguma forma, sempre entendi o passado como um baú de histórias interessantes – a maioria desconhecidas – e que nos mostra quem e por quê somos.

O que sempre me intrigou nesse passado pouco visitado é a coragem dos imigrantes italianos ao deixarem sua terra natal com toda a familia – na maioria das vezes com crianças e recém-nascidos – para embarcar num navio, e cruzar o Atlântico, rumo a um país desconhecido.

No caso da minha família – Dalla Bernardina – cuja origem é a pequena Sangiorgio in Salice, Comune di Sona, Verona – a imigração se deu no ano de 1877. À época, deixaram a Itália pelo porto de Genova, Anna Bertoldi, com seus três filhos – Giuseppe, à época com 39 anos, Francesco e Felice - na promessa de encontrar no Brasil uma terra fértil para o sustento da família.

Giuseppe Dalla Bernardina, filho de Angelo Dalla Bernardina e Anna Bertoldi, era pai de meu tataravô Luigi. Seu pai, Angelo, permaneceu na Itália, e até onde se obteve informações ele nunca se uniu à familia no Brasil.

O navio Isabella atracou no Porto de Santa Leopoldina, no estado do Espírito Santo, nos últimos dias do mês de janeiro de 1877, sendo que a familia estabeleceu residência na região do Vale do Canaã , cuja principal atividade é a agrícola, ainda nos dias atuais.

Luigi Dalla Bernardina – meu tataravô - tinha apenas 7 anos quando chegou ao Brasil, e teve 14 filhos com Regina Bonatti, sendo um deles, meu bisavô Dionisio Dalla Bernardina.

Após meu bisavô trabalhar por anos na comercialização de café, e enfrentar algumas crises nessa atividade, vislumbrou as excelentes chances advindas do desenvolvimento econômico do país, firmando residência na cidade de Colatina, interior do estado do Espírito Santo, por volta da década de 50.

Nesse período, meu avô Claudio e seus irmãos José e Hélio associaram-se a meu bisavô, auxiliando-o e incrementando a atividade comercial da familia.

Em 1961, acontece a expansão dos negócios da família para o setor de pecuária, e frota de veículos de transporte. Em 1965, meu avô Cláudio se muda com a familia para a capital do estado – Vitória – visando expandir os negócios.

Com o forte crescimento econômico a transição para a exploração do comércio de produtos siderúrgicos passou a definir o que é hoje o principal negócio da familia: o aço.

Nesse movimento, em 1980 nasce a Cedisa – Central de Aço S/A – que figura atualmente no ranking das 60 maiores empresas do estado, com filiais em diversas cidades do país e atuante no mercado internacional.

Além disso o grupo empresarial familiar já expandiu seus negócios para o setor de seguros, inspeção veicular e agronegócios, além da administração dos imóveis que compõem o patrimônio.

Diante dessa história, e curiosa em descobrir a origem da verve empreendedora que corre em nossas veias, era chegada a hora de realizar a viagem que sempre idealizei rumo à nossa cidade Natal: la bella Verona.

Parti em 30 de janeiro de 2010. Esta seria a segunda vez que eu retornava àquela região, entretanto, desta vez, os propósitos estavam bem delineados: eu passaria quase duas semanas sozinha, visitando os lugares, conversando com pessoas, buscando por informações e quem sabe, estabelecendo contato com parentes que permaneceram na Itália, e que provavelmente desconheciam a nossa existência.

Através de preciosos contatos enviado por nosso primo Nilton Chieppe – também um veronesi – tive a oportunidade de conhecer pessoas como Ottavio Messetti, que coordena de Verona a associação Veronesi nel Mondo.

Em Sona, fui bem recebida pela Comune, na pessoa de Raffaela Tessaro, que me auxiliou na pesquisa e me apresentou o Sr. Guerrino Bordignon, um senhor muito simpático, uma espécie de “relações públicas”de Sangiorgio in Salice.

Em três dias de visita, Guerrino me apresentou toda a cidade, do banco, ao jardim de infância, das cozinhas de restaurantes de amigos à igreja de San Rocco que só abre aos domingos. Comi na deliciosa pasticceria Mainenti, visitei os arredores no campo, casas, vinícolas. Ganhei quase quinze quilos de livros. Explorei o que podia em Sangiorgio in Salice, San Rocco e Sommacapagna.

Em Verona, tive a oportunidade de conhecer Mario Dalla Bernardina, que por coincidência é vizinho de porta de Elda Gobbi, irmã de uma amiga muito especial que fiz em Verona, a simpática senhora Ione Chieppe.

Da familia de Mario conheci sua prima cugina Maria Dalla Bernardina, que mora em Castelnuovo del Garda – Mario me levou pessoalmente a seu encontro – bem como seu filho Luca e sua esposa Anna Belloni. Todos foram muito amáveis, e tenho certeza que nosso contato será perene.

Também dei a sorte de, após assistir a uma espetacular gala de ballet classico no Teatro Filarmônico, escolher justamente o restaurante onde o chef se chama Lorenzo Dalla Bernardina. Dali veio o contato de seu irmão, Enrico, professor na Universitá degli studi di Verona, com quem tive a oportunidade de jantar e conversar bastante sobre a nossa história.

A minha viagem foi assim, servida de boa comida e excelentes vinhos, repleta de surpresas e coincidências, consequência imediata de quem se dispõe a viajar verdadeiramente aberto para pessoas e histórias. Sei que não retornei com todas as respostas, afinal, mal sabemos qual o grau de parentesco entre nós e Enrico, Lorenzo, Mario e Maria, ou mesmo, por que Angelo não emigrou junto com a familía ao Brasil.

Mas isso tornou-se irrelevante, pelo menos por hora. Sinto que as portas e janelas da nossa origem – que estavam temporariamente fechadas – foram escancaradas. Agora é só deixar o sol entrar. Verona já é minha casa, e as respostas virão com o tempo.


Flávia Dalla Bernardina
flaviadalla@hotmail.com

2 comentários:

  1. Não citou Atílio Dalla Bernardina, uns do fundadores de São Roque do Canaã. Meu bisavô.

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    1. Olá Gabriel, você pode mandar um texto da família de seu bisavô, para um novo post, OK?

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